A Flórida se tornou um dos 14 estados norte-americanos que ainda permitem o uso de castigo corporal em escolas públicas, agora com uma nova lei que exige o consentimento explícito por escrito dos responsáveis. A legislação estabelece que os distritos escolares interessados em aplicar a prática devem criar uma política formal, aprovada pelo conselho escolar, e que os responsáveis assinem um termo autorizando seu uso. Segundo o Departamento de Educação da Flórida, a punição corporal foi aplicada mais de 500 vezes em 17 distritos durante o ano letivo 2023-2024.
A psicóloga Karina Chernacov alerta para os riscos da lei. "Violência nunca é disciplina. O castigo físico pode gerar obediência imediata, mas não internaliza valores e aumenta comportamentos agressivos e antissociais. Há também relação com depressão, ansiedade e até transtorno de estresse pós-traumático em crianças expostas de forma recorrente", explica. Ela ressalta que o novo dispositivo pode criar um ambiente escolar de medo e ansiedade, prejudicando aprendizado e saúde emocional.
"A gente sabe que um ambiente agressivo ele reduz em muito a motivação, aumenta os conflitos e prejudica o desenvolvimento dessa criança. Eu não vejo benefício disso num ambiente escolar."
Pais brasileiros residentes na Flórida também manifestam preocupação. Adeise Moraes, mãe de duas meninas em idade escolar comentou: "Não sou a favor de castigos físicos. Acredito que isso vai gerar confusão nas escolas. Elas deveriam ser lugar de aprendizado e paz para as crianças".
A lei aprovada pelo Estado representa, segundo a deputada Dana Trabulsy, autora do projeto, um "compromisso": manter a prática disponível para quem deseja, mas com regras mais claras e maior supervisão. Críticos defendem que a Flórida deveria seguir o exemplo de 33 estados que já proibiram completamente a punição corporal nas escolas.
Atualmente, entre os estados que ainda permitem castigo físico estão Alabama, Arizona, Arkansas, Colorado, Florida, Georgia, Idaho, Indiana, Kansas, Kentucky, Louisiana, Mississippi, Missouri, North Carolina, Oklahoma, South Carolina, Tennessee, Texas e Wyoming.
Especialistas em psicologia e educação defendem alternativas que não envolvam violência, como disciplina positiva, diálogo, acompanhamento multidisciplinar e maior envolvimento dos pais. "Ensinar através do exemplo, promover autonomia e autoestima, são formas mais eficazes de desenvolver comportamentos positivos em crianças do que qualquer punição física", conclui Karina.