A Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos (Border Patrol) monitora milhões de motoristas em todo o país por meio de um programa sigiloso que identifica padrões de viagem considerados suspeitos, segundo investigação da Associated Press (AP). O sistema, baseado em câmeras que registram placas de veículos e em um algoritmo que analisa rotas percorridas, já levou a inúmeras abordagens, revistas e até prisões.
Motoristas têm sido parados por supostas infrações menores — como excesso de velocidade, falta de seta ou até um aromatizador pendurado no retrovisor — sem saber que foram sinalizados previamente por autoridades federais. A investigação da AP utilizou depoimentos de ex-funcionários do governo, documentos judiciais, dados de agências estaduais e federais, além de entrevistas com especialistas em privacidade.
A Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), órgão ao qual a Patrulha de Fronteira pertence, afirma que o uso de leitores de placas ajuda a identificar ameaças e combater redes criminosas, sendo regido por políticas rígidas e leis federais. Embora tradicionalmente atue em um raio de 160 km da fronteira, a CBP destaca que a Patrulha de Fronteira tem autorização legal para operar em qualquer parte do país.
Criado há cerca de uma década para combater crimes ligados à fronteira, o programa se expandiu fortemente nos últimos cinco anos. Documentos indicam que a agência tenta manter o projeto longe de registros judiciais e relatos policiais. Câmeras são instaladas discretamente em estradas, muitas vezes camufladas em equipamentos de trânsito.
O algoritmo classifica como suspeita uma série de situações, como motoristas em carros alugados, viagens curtas a regiões fronteiriças ou uso de estradas secundárias. A rede de vigilância se estende não apenas pela fronteira sul, mas também pelas proximidades do Canadá. A Patrulha de Fronteira tem ampliado sua cooperação com outras agências, incluindo o DEA, autoridades locais e empresas privadas, e há pedidos para uso de tecnologia de reconhecimento facial.
Sob a administração Trump, a CBP deve receber mais de US$ 2,7 bilhões para reforçar sistemas de vigilância com uso de inteligência artificial e tecnologias avançadas — parte de um processo que, segundo especialistas, transforma a agência em algo semelhante a uma operação de inteligência doméstica.
Juristas e defensores de privacidade alertam para possíveis violações constitucionais. Embora captar placas em vias públicas seja permitido, o monitoramento massivo e contínuo de cidadãos levanta questionamentos sob a Quarta Emenda, que protege contra buscas e apreensões abusivas.
“Eles estão coletando grandes quantidades de informações sobre quem as pessoas são, onde vão, o que fazem e com quem se relacionam”, afirmou Nicole Ozer, diretora do Center for Constitutional Democracy da UC Law San Francisco. “Esses sistemas de vigilância não tornam as comunidades mais seguras.”
Fonte: CBS

