Imigrantes em diferentes partes dos Estados Unidos têm comparecido ao tribunal acreditando que enfrentariam audiências rotineiras. Em vez disso, encontram uma emboscada: seus casos são rapidamente descartados por advogados do governo, tornando-os elegíveis para “remoção expedita”. Ao saírem da sala, agentes do ICE à paisana — previamente alertados por mensagens de texto enviadas de dentro do tribunal — realizam a prisão.
A cena ocorreu recentemente com um cubano que vivia há anos nos EUA e compareceu com a esposa e o bebê de 7 meses. O advogado do governo pediu a dispensa imediata do pedido de asilo. Minutos depois, agentes tomaram o homem no corredor. “Consegui”, escreveu um agente ao advogado em mensagens reveladas pela AP.
Segundo uma investigação da Associated Press em 21 cidades, esse tipo de operação tornou-se comum desde a posse de Donald Trump para um segundo mandato. As táticas fazem parte de uma reformulação profunda dos 75 tribunais de imigração do país, agora alinhados à meta de deportações em massa.
Com quase 3,8 milhões de casos de asilo pendentes, audiências duram poucos minutos e o devido processo legal é frequentemente ignorado, afirmam funcionários, muitos deles sob anonimato por medo de represálias. Juízes recém-contratados foram pressionados a cumprir metas de produtividade, enquanto quase 90 magistrados considerados “brandos” foram demitidos. Os tribunais, subordinados ao Departamento de Justiça, permitem ao procurador-geral demitir juízes com pouca justificativa.
Agentes do ICE e advogados do DHS selecionam antecipadamente quais casos podem ser dispensados para viabilizar prisões imediatas. A maioria dos alvos são homens sem histórico criminal que comparecem pessoalmente às audiências, contrariando afirmações de Trump de que estaria priorizando “os piores dos piores”.
As consequências são devastadoras. Famílias são separadas no corredor dos tribunais. Um ex-juiz, demitido sem explicações, relata colegas trabalhando sob medo constante. Programas de assistência jurídica gratuita foram cortados, obrigando organizações como a American Gateways a atender migrantes em estacionamentos.
Sem garantia de segurança, muitos imigrantes passaram a faltar audiências ou solicitar participação remota. Paralelamente, pedidos de autodeportação atingiram recordes: mais de 14 mil apenas nos primeiros meses de 2025.
Alguns apelam ao Judiciário federal por meio de pedidos de habeas corpus, mas esse caminho é limitado e incapaz de conter a avalanche de detenções. Para muitos, resta apenas o adeus no corredor — como o hondurenho levado por agentes enquanto o filho em cadeira de rodas tentava alcançá-lo, chorando “Papai!”.
Críticos afirmam que o sistema perdeu sua integridade. “O que temos agora é uma visão completamente distorcida do que deveria ser um tribunal”, resume Ashley Tabaddor, ex-juíza de imigração.
Fonte: ABC

