Imigrantes deportados dos Estados Unidos têm denunciado o uso de um colete de contenção total chamado “WRAP”, utilizado pelo U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE) durante voos de deportação. O dispositivo, conhecido entre agentes como “o burrito” ou “o saco”, prende braços, pernas e tronco do detido, impedindo qualquer movimento. Segundo relatos obtidos pela Associated Press, alguns imigrantes foram amarrados com o WRAP mesmo já estando algemados e sem apresentar resistência.
Um nigeriano que integra um processo judicial contra o governo afirmou ter sido colocado no dispositivo, junto com outros homens, durante um voo de 16 horas até Gana — país de destino incorreto. “Foi como um sequestro”, disse ele à AP. Outros deportados relataram dores intensas e inchaço nas pernas após horas imobilizados. A agência de imigração não respondeu aos pedidos de esclarecimento e se recusou a divulgar sua política sobre o uso do equipamento.
O uso do WRAP preocupa especialistas e defensores dos direitos humanos. Um relatório interno do Departamento de Segurança Interna (DHS), de 2023, já havia alertado para riscos fatais associados ao dispositivo, ligado a pelo menos 12 mortes nos EUA em casos envolvendo prisões locais na última década. Apesar disso, o governo americano continua comprando o equipamento — foram gastos mais de US$ 268 mil desde 2015.
A fabricante Safe Restraints Inc., sediada na Califórnia, afirma que o produto foi criado para evitar mortes durante confrontos violentos e não para silenciar pessoas que protestam verbalmente. “Se o uso é para punir ou intimidar, é indevido”, reconheceu o CEO, Charles Hammond.
Advogados que representam deportados africanos classificaram o uso do WRAP como “desumano e incompatível com os valores fundamentais dos EUA” e pedem investigação sobre o abuso da prática em voos internacionais.
Fonte: AP

