Caroline Dias Gonçalves, brasileira de 19 anos, que vive nos Estados Unidos desde os sete, se pronunciou pela primeira vez após ser detida pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) em 5 de junho. Em nota publicada pela organização TheDream.US, que oferece bolsas de estudo para jovens imigrantes, Caroline descreveu sua prisão como o período “mais difícil” de sua vida.
Estudante de enfermagem bolsista na Universidade de Utah, ela foi libertada sob fiança em 20 de junho, mais de dois dias após a Justiça ter autorizado sua soltura. Detida num centro do ICE em Aurora, no Colorado, Caroline relatou à organização as péssimas condições no local e um tratamento discriminatório contra imigrantes que não falam inglês.
“Nos davam comida encharcada – até o pão vinha molhado”, contou a jovem. “Quando perceberam que eu falava inglês, passei a ser tratada melhor. Isso partiu meu coração. Ninguém merece ser tratado assim num país que é o meu lar há 12 anos.”
O caso ganhou atenção nacional após vir à tona que Caroline foi parada por um policial estadual no Colorado, Alexander Zwinck, por uma infração de trânsito considerada menor. Poucos minutos após a abordagem, ela foi novamente parada e então detida por agentes do ICE. Zwinck, agora, está em licença administrativa enquanto a polícia local investiga se houve violação da lei estadual, que proíbe questionamentos sobre status migratório durante abordagens.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) negou as acusações de discriminação. Em resposta à BBC News Brasil, a porta-voz Tricia McLaughlin classificou como “categoricamente falsa” a alegação de tratamento desigual com base no idioma e disse que Caroline é uma “imigrante ilegal cujo visto expirou há mais de uma década”.
O advogado da jovem, Jonathan M. Hyman, rebateu com firmeza, afirmando que a resposta do governo é “retórica política vazia” e que questionar a conduta de um agente não equivale a vilanizá-lo. “Talvez os agentes do ICE devessem usar mais câmeras no corpo e menos máscaras”, ironizou, referindo-se ao uso de máscaras táticas pelos agentes em operações.
Caroline também agradeceu aos amigos e familiares pelo apoio durante o período de detenção e fez um apelo para que outras pessoas não passem pelo que ela viveu. “Quero apenas uma chance justa de pertencer a este país que é o meu lar”, afirmou.
A prisão ocorreu em meio ao endurecimento das políticas migratórias sob o segundo mandato de Donald Trump. O número de imigrantes detidos pelo ICE ultrapassou 51 mil no início de junho — o maior desde 2019. Muitos deles, assim como Caroline, não têm antecedentes criminais.
Amigos da jovem organizaram uma campanha de arrecadação para custear sua defesa legal, que agora se concentra em evitar uma possível deportação. As imagens da câmera corporal do policial Zwinck mostraram questionamentos sobre a origem de Caroline, o que não é permitido pela legislação estadual, levantando suspeitas sobre colaboração ilegal entre autoridades locais e o ICE.
Fonte: G1