Órgãos de inteligência do governo brasileiro vêm detectando desde 2022 uma série de membros do baixo clero do PCC (Primeiro Comando da Capital), os chamados "soldados", cruzando ilegalmente as fronteiras dos Estados Unidos para tentar fixar residência por lá. Além disso, a polícia brasileira tem dados de familiares de grandes traficantes ligados ao PCC morando e fazendo investimentos na compra de bens e propriedades de luxo, especialmente em Miami.
Até então, a presença de integrantes da base hierárquica do PCC ocorria de forma pontual, a maioria fugindo da Justiça ou realizando operações de contrabando de armas.
Os EUA são um dos 26 países em que a Polícia Federal do Brasil identificou a presença de membros da facção. As autoridades estimam que o PCC tenha cerca de 40 mil integrantes.
Os destino mais comuns são as regiões de Massachusetts e Pensilvânia, onde há uma grande comunidade brasileira, o que torna mais fácil uma eventual infiltração.
A presença um grupo criminoso liderado por brasileiros de Massachusetts se tornou pública em 2019 quando 14 suspeitos foram presos pelo Departamento de Justiça. De acordo com a Promotoria local, o grupo foi batizado de PCM (Primeiro Comando de Massachusetts), inspirada na facção.
Em 2021, o presidente democrata Joe Biden assinou uma ordem executiva para modernizar as sanções do Departamento do Tesouro dos EUA usadas para combater o comércio ilícito de drogas.
O órgão designou 25 atores, incluindo o PCC, como um dos alvos da medida que permite que o Tesouro sancione "pessoas estrangeiras que conscientemente recebam propriedade que constitua ou seja derivada de receitas de atividades ilícitas de tráfico de drogas".
"O PCC opera em toda a América do Sul, e suas operações alcançam os Estados Unidos, Europa, África e Ásia", diz nota do governo americano à época.
O procurador de Justiça Marcio Sergio Christino, especialista em crime organizado, afirma que nos Estados Unidos já existem grupos criminosos estruturados há décadas, o que torna difícil que o PCC consiga se fortalecer por lá como fez na América Latina.
"Quem chega de fora, não chega pisando firme. O que os caras vão fazer lá? Eles fogem pra lá com o dinheiro. Lavam o dinheiro lá, porque é negócio até para as máfias americanas lavarem o dinheiro, porque cobram. Se eles chegarem lá e forem, por exemplo, traficar, vão encontrar uma oposição de todos aqueles que já estão ali", afirmou ele.
Brasil e Estados Unidos vêm intensificando a colaboração também na fiscalização da fronteira, onde policiais americanos da Border Patrol receberam informações detalhadas da origem do PCC e de como tentar identificar seus membros —por exemplo, por meio de tatuagens.
Fonte: Folha de S. Paulo