A história de Solange Debortoli, de 48 anos, poderia facilmente virar roteiro de cinema: uma brasileira que deixou Joinville aos 22 anos, construiu uma vida nos Estados Unidos, superou barreiras culturais, reinventou a própria carreira e, décadas depois, encontrou na boleia de um caminhão o caminho para sua verdadeira realização.
Moradora de Port St. Lucie, na Flórida, Solange vive há 26 anos no país. Antes de embarcar na profissão que hoje define sua identidade, ela atuou por 18 anos como legal assistant em um escritório de advocacia em Pompano Beach. Ali, viveu experiências que descreve como enriquecedoras — mas sentia que o mundo fora das paredes do escritório a chamava.
O primeiro passo dessa virada começou de forma simples: acompanhando o marido, caminhoneiro experiente, em algumas viagens. A estrada a encantou. A liberdade dos trajetos, as paisagens que mudam a cada dia e o prazer de dirigir reacenderam nela uma paixão antiga. "Sempre gostei de dirigir, mas foi nessas viagens que percebi que aquilo poderia ser minha vida também", relembra. Com o incentivo do marido, ela se matriculou em uma escola, tirou a licença CDL Classe A e, há oito meses, dirige profissionalmente ao lado dele na empresa de transporte do casal, subcontratada por uma companhia da Califórnia.
Ingressar em uma área onde apenas 10% dos profissionais são mulheres foi uma vitória. "Tenho muito orgulho de ser uma delas", afirma. Na estrada, Solange coleciona não apenas quilômetros percorridos, mas histórias, descobertas e a sensação constante de que está exatamente onde deveria estar.
Como muitos imigrantes, ela enfrentou o desafio da comunicação nos primeiros anos, especialmente em uma época sem a tecnologia atual. Longe da família, também conheceu o peso da saudade. Mas sua personalidade otimista a guiou pelos momentos difíceis. "A paciência e a crença de que tudo termina bem me ajudaram muito. Não adianta desespero, é preciso confiar no processo."
Solange credita boa parte de sua força ao marido, "grande incentivador", e à fé, que aparece de forma constante em sua narrativa. Ela lembra o momento em que quase desistiu de ficar nos EUA, apenas um mês após chegar. "A saudade apertou, pensei em voltar, mas fui orando e Deus acalmou meu coração."
Entre suas maiores conquistas, destaca a cidadania americana — "um sonho realizado" — e a oportunidade de construir uma vida estável, cheia de aprendizado, ao lado da família. Para o futuro, ela e o marido sonham em se aposentar, concluir projetos pessoais, viajar e passar mais tempo com a família no Brasil.
Solange também carrega uma visão clara do que significa sucesso: "O verdadeiro sucesso não está no que você conquista, mas em quem você se torna ao longo do caminho." Às brasileiras que chegam aos EUA em busca de um recomeço, ela deixa um recado assertivo: organizem-se, estudem, sejam prudentes — e sigam em frente, mesmo com medo.

