Os primeiros seis meses de 2025 revelam uma guinada drástica na política migratória dos Estados Unidos, marcada por uma retórica dura e ações concretas que, embora defendidas em nome da segurança nacional e da ordem, têm gerado impactos profundos e duradouros. A promessa de "recuperar o controle das fronteiras" tem sido implementada com medidas que, na prática, desmontam estruturas de acolhimento, interrompem processos legais e lançam centenas de milhares de imigrantes em um limbo jurídico e humanitário.
Essa nova abordagem não atinge apenas quem cruzou a fronteira recentemente ou quem permanece no país sem documentos. Ela afeta também aqueles que contribuíram por anos com a economia, com a cultura e com a diversidade que sempre foram pilares dos Estados Unidos. Famílias foram separadas, trabalhadores perderam seus empregos, comunidades inteiras entraram em estado de alerta permanente. A sensação de medo voltou a dominar bairros, escolas e locais de trabalho. Até mesmo o acesso a serviços básicos — como saúde, educação ou moradia — está sendo comprometido em razão da insegurança jurídica ou da estigmatização crescente.
Do ponto de vista institucional, testemunhamos um tensionamento entre os poderes: enquanto o Executivo impulsiona ações cada vez mais radicais, o Judiciário tenta, onde possível, preservar garantias constitucionais e os direitos básicos dos que buscam abrigo ou oportunidade no país. A sociedade civil, por sua vez, se vê novamente desafiada a atuar como força moderadora, mobilizando-se em defesa da dignidade humana.
Não se trata apenas de política migratória — trata-se de qual país os EUA desejam ser. Um país que fecha os olhos para o sofrimento de crianças, que criminaliza a esperança e que transforma trabalhadores em alvos? Ou um país que reconhece sua história, que entende a contribuição dos imigrantes e que sabe equilibrar segurança com justiça?
Os próximos meses serão decisivos. O caminho atual, se mantido sem revisões, pode levar a consequências sociais, econômicas e morais irreparáveis. O momento exige mais do que ação — exige consciência. E, principalmente, coragem para lembrar que a grandeza de uma nação se mede também por sua capacidade de proteger os mais vulneráveis, mesmo em tempos difíceis.
Essa guinada também tem exposto a fragilidade da integração entre os estados e o governo federal, já que muitas cidades e condados — especialmente aqueles considerados "santuários" — enfrentam pressões e sanções por se recusarem a colaborar com políticas migratórias agressivas. Em vez de fortalecer a cooperação institucional, esse embate tem aprofundado divisões internas e colocado servidores públicos em situações moralmente e legalmente conflitantes. O resultado é uma aplicação desigual da lei, onde o tratamento do imigrante depende mais do CEP onde vive do que dos princípios constitucionais que deveriam valer para todos.
Além disso, há um efeito colateral pouco debatido: o impacto psicológico e emocional nas novas gerações. Filhos de imigrantes, muitos deles cidadãos americanos, vivem hoje em constante ansiedade — com medo de perder os pais, com vergonha da própria identidade, e com a sensação de que não pertencem ao país onde nasceram. A criminalização da migração não afeta apenas fronteiras físicas, mas fragiliza o tecido social americano, criando cicatrizes invisíveis que podem comprometer a formação de uma juventude saudável, participativa e confiante em seu futuro.