Em uma era em que segurança e controle de identidade se tornaram pilares centrais da política interna dos Estados Unidos, a implementação da Real ID representa uma virada significativa no sistema de verificação de identidade em nível nacional. A nova exigência, que entrou em vigor no dia 7 de maio de 2025, exigi que todos os viajantes aéreos tenham uma identificação compatível com os padrões federais para embarcar em voos domésticos ou acessar instalações federais.
Embora um passaporte válido seja aceito como documento alternativo ao Real ID para embarques domésticos, essa não é uma solução viável para todos. Segundo dados do Departamento de Estado dos EUA, apenas cerca de 48% dos cidadãos americanos possuem passaporte válido (dados de 2024). Isso significa que mais da metade da população dos EUA — aproximadamente 170 milhões de pessoas — não tem acesso imediato a essa alternativa.
Muitos americanos nunca solicitaram passaporte por não viajarem ao exterior, especialmente nas regiões mais rurais ou de baixa renda. O processo de obtenção também é mais caro e burocrático do que renovar uma carteira de motorista comum. Em comunidades mais isoladas, o acesso a escritórios de passaportes é limitado, criando mais uma camada de dificuldade.
Portanto, contar com o passaporte como solução universal seria ignorar uma grande parcela da população — especialmente idosos, trabalhadores informais, comunidades indígenas, e famílias de baixa renda.
Essa realidade reforça a urgência de políticas de transição bem comunicadas, amplamente acessíveis, e com suporte nos níveis local e estadual. Sem isso, milhões poderão ter sua mobilidade e direitos restringidos, não por falta de vontade, mas por barreiras práticas.
A mudança afeta principalmente os passageiros que ainda não atualizaram suas identidades. A partir da data de implementação, documentos como carteiras de motorista comuns (não compatíveis com Real ID) deixarão de ser aceitos para embarque. Isso pode causar atrasos, confusão e até perda de voos, principalmente nas primeiras semanas da transição.
Reflexos econômicos da Real ID
No curto prazo, a exigência pode gerar instabilidade: redução de passageiros, congestionamento nos departamentos de veículos (DMVs) e pressão sobre companhias aéreas e aeroportos. Pequenos negócios, especialmente os ligados ao turismo e hospitalidade, podem sentir o impacto de uma mobilidade reduzida. No entanto, a longo prazo, o sistema pode oferecer benefícios econômicos: redução de fraudes, melhoria na confiabilidade de cadastros e modernização dos serviços públicos. A digitalização associada ao Real ID também pode impulsionar setores como tecnologia e segurança da informação.
Grandes centros urbanos e estados como Califórnia, Nova York e Texas estão entre os mais avançados na emissão de carteiras Real ID, com milhões de documentos já emitidos. No entanto, estados como Oklahoma, Missouri e algumas regiões do Sul e Meio-Oeste ainda enfrentam desafios de infraestrutura, baixa adesão da população e dificuldades operacionais
A implementação da Real ID é um passo importante para reforçar a segurança nacional e modernizar a gestão de identidade nos Estados Unidos. Contudo, sua eficácia dependerá da capacidade do governo federal e dos estados de coordenar a transição de forma justa, clara e eficiente. Se mal conduzida, a medida poderá restringir o direito à mobilidade de milhões de cidadãos. O desafio está lançado: fazer da Real ID uma política de segurança sem abrir mão da inclusão e da mobilidade democrática.