A videoconferência entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, amplamente divulgada como um gesto diplomático "amistoso", trouxe mais dúvidas do que certezas aos mercados financeiros. Embora o encontro tenha sido apresentado como sinal de cooperação, bastidores diplomáticos revelam que o ex-presidente norte-americano foi direto: a retirada do tarifão imposto aos produtos brasileiros dependeria de uma anistia política que pacifique o cenário interno e garanta estabilidade ao aliado ideológico Jair Bolsonaro.
Trump usa tarifas como instrumento político e geopolítico
Desde o início de seu novo mandato, Trump vem usando as tarifas alfandegárias como arma de pressão geopolítica. O "tarifão" sobre as exportações brasileiras, de até 50%, foi justificado pela Casa Branca como resposta à "instabilidade política e perseguições jurídicas" no Brasil. Na prática, trata-se de uma chantagem política disfarçada de ajuste comercial, uma manobra para forçar Lula a rever o cerco judicial que atinge figuras do bolsonarismo e, por extensão, a própria narrativa conservadora latino-americana.
Trump teria insistido, segundo fontes próximas, que a anistia ampla — incluindo Bolsonaro e militares processados — seria condição para destravar negociações bilaterais e revisar as tarifas. A mensagem foi clara: sem pacificação interna e sem limites à atuação ideológica do STF, não haverá alívio econômico.
O STF sob pressão — o epicentro do impasse institucional
O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, torna-se o centro da tensão. Desde o início das investigações contra figuras ligadas ao bolsonarismo, o STF assumiu protagonismo político, com decisões que extrapolam o campo jurídico e reverberam diretamente na economia e nas relações internacionais.
Agora, a pressão internacional vinda de Washington aumenta o desconforto interno. Empresários e investidores começam a enxergar o ativismo judicial como um fator de instabilidade institucional — um obstáculo à previsibilidade jurídica necessária para investimentos de longo prazo.
Nos bastidores, há quem veja na exigência de Trump um recado direto ao Supremo: a comunidade internacional observa, e o excesso de politização das cortes superiores já impacta o ambiente de negócios.
Bolsonaro como peça estratégica no tabuleiro
Enquanto isso, Jair Bolsonaro — atualmente pressionado por múltiplos processos e inelegível — ganha inesperada relevância diplomática. Trump o vê como símbolo de resistência conservadora e pilar geopolítico na América Latina. Ao atrelar a retirada das tarifas à pacificação política e eventual anistia, Trump reposiciona Bolsonaro como fator de estabilidade, invertendo a narrativa construída pelo progressismo latino.
Esse gesto tem dupla função: pressiona Lula a reduzir a perseguição jurídica e reintroduz Bolsonaro no debate global, agora não mais como réu, mas como ativo político. É uma jogada que também ecoa internamente — setores do agronegócio, das Forças Armadas e do empresariado veem em Bolsonaro um ponto de equilíbrio frente à insegurança institucional promovida pelo STF.
Mercados em compasso de espera
Enquanto o embate político se intensifica, os mercados observam com cautela o desfecho do impasse. A Bolsa de São Paulo reage a cada sinal vindo de Washington, e o câmbio oscila conforme aumenta ou diminui a expectativa de trégua comercial.
Câmbio e risco país: o real permanece vulnerável. Investidores temem que a submissão política de Lula às pressões do STF, sem espaço para negociação com os conservadores, aprofunde a fuga de capital e amplie o risco Brasil.
Juros e títulos soberanos: a falta de clareza institucional já eleva os juros de longo prazo, enquanto fundos estrangeiros congelam aportes até que o quadro político se estabilize.
Exportadores e agronegócio: setores diretamente atingidos pelas tarifas — soja, carne, café e manufaturados — pressionam Brasília por uma saída negociada, enquanto criticam o governo por "ideologizar" o comércio exterior.
Entre soberania e realpolitik
Lula agora enfrenta um dilema clássico: ceder politicamente para preservar economicamente, ou resistir institucionalmente e pagar o preço financeiro.
Se aceitar discutir anistia, será acusado de fraqueza e de interferir no Judiciário. Se resistir, o país poderá ver as tarifas se prolongarem, travando exportações e ampliando a desconfiança dos investidores.
Do ponto de vista liberal-conservador, o caminho ideal seria reafirmar a soberania nacional com base em estabilidade jurídica, previsibilidade econômica e contenção do ativismo judicial.
Um país com instituições equilibradas não precisa negociar liberdade política em troca de alívio tarifário.
Conclusão: o tabuleiro se move, mas o mercado não se engana
O encontro Trump-Lula escancarou a verdadeira disputa: não entre dois governos, mas entre dois modelos de poder — o institucional moderado e o judicial centralizador.
Trump pressiona por anistia como via de estabilização política; o STF resiste para manter o controle; e Lula tenta equilibrar ambos sem perder legitimidade interna.
Para o investidor de perfil liberal e pró-mercado, a lição é inequívoca: a economia não floresce onde a justiça se torna instrumento de poder.
Enquanto o Brasil não resolver sua crise institucional — com STF politizado e Executivo hesitante — o capital seguirá aguardando o desenlace.
Trump sabe disso. E por isso, suas tarifas são menos sobre comércio e mais sobre quem realmente comanda o Brasil.