A recente crise nas negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos está longe de se resolver. Desde abril de 2025, quando uma tarifa de 10 % foi inicialmente aplicada sobre produtos brasileiros, o diálogo tem se mantido estagnado, com impasse diplomático e econômico.
Em 9 de julho de 2025, o governo americano anunciou uma medida ainda mais severa: tarifas de 50 %, vigentes a partir de 1º de agosto, recaindo sobre cerca de 35,9 % do valor das exportações brasileiras para os EUA. O motivo declarado foi político, associado ao processo judicial contra o ex presidente Jair Bolsonaro, forte aliado de Donald Trump.
Desemprego já cresce no Brasil
Embora ainda não haja dados consolidados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com cortes atrasados, entidades como Amcham Brasil alertam que o "tarifaço trará consequências severas sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países". A Reuters estima que mais de 100 mil empregos podem ser perdidos se a disputa permanecer em aberto, com impacto projetado de 0,2 p.p. no PIB brasileiro.
Empresas mais expostas
Os setores mais comprometidos são aqueles ligados à agroexportação e à indústria química. Exportadoras como JBS, Marfrig e a Embraer enfrentam quedas drásticas na demanda — a Embraer, por exemplo, emprega milhares de trabalhadores nos EUA e verá contratos encarecidos por compradores americanos. A indústria química brasileira, representada pela Abiquim, alertou que US$ 1,7 bilhão em exportações anuais ficam sob risco imediato, com inúmeros cancelamentos de pedidos.
Visão dos empresários da exportação
Líderes do setor exportador já manifestaram preocupação. Segundo o presidente da Abiquim, a tarifação compromete cadeias produtivas de setores como alimentos, móveis e têxteis, levando ao cancelamento de pedidos e risco de investimentos bilaterais. Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, alerta que aproximadamente US$ 40 bilhões em exportações podem ficar expostos à tarifa, com US$ 10 bilhões apenas no agronegócio.
OTAN, diesel russo e possível tarifa de 100 %
Além da tensão comercial, o Brasil enfrenta pressão internacional por continuar importando diesel russo. A OTAN e o governo americano ameaçam aplicar tarifas de até 100 %, caso países que mantêm negócios com a Rússia não pressionem por um cessar fogo imediato na guerra da Ucrânia. Em 2024, o Brasil importou cerca de US$ 5,4 bilhões em diesel russo — recorde histórico.
Discurso intransigente em ambos os lados
O tom permanecer agressivo. De um lado, o governo Trump endureceu a linguagem, classificando o Brasil como um parceiro "tremendo tarifador"; do outro, o presidente Lula considera a medida uma "chantagem inaceitável", mas, até o momento, evita retaliação direta, apostando em diplomacia e apoio à indústria doméstica.
Projeção: 3 meses críticos
Caso o impasse persista pelos próximos três meses, as projeções apontam para demissões em várias frentes:
Petrobras, com suspensão de embarques de petróleo e óleos, sinaliza cortes de pessoal devido a receitas reduzidas;
Os bancos brasileiros, também expostos às cadeias internacionais, já estudam ajustes internos diante da retração do crédito e do câmbio;
No setor de combustível, a falta de diesel barato aumenta custos logísticos, pressionando preços nas bombas e ampliando a crise inflacionária.
Impacto nos combustíveis
O setor de combustíveis enfrenta uma tempestade perfeita: de um lado, a volatilidade nos preços internacionais do petróleo; de outro, o risco crescente de sanções secundárias impostas pelos Estados Unidos, caso o Brasil mantenha as importações de diesel da Rússia — que já representam cerca de 35% do total consumido no país. A possibilidade de retaliações inclui o rompimento de contratos com fornecedores norte-americanos e restrições ao refino em empresas com capital estrangeiro.
Segundo analistas da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o impacto imediato poderá elevar o preço da gasolina em até R$ 0,60 por litro e o diesel em R$ 0,85, caso as sanções avancem e o Brasil precise buscar alternativas mais caras no mercado asiático ou africano. Em um cenário de agravamento da crise, o litro da gasolina comum pode ultrapassar R$ 7,50 nas principais capitais brasileiras até o fim de outubro, pressionando a inflação e ampliando o custo do transporte e da produção em cadeia.
O impasse comercial entre Brasil e EUA, impulsionado por motivações políticas, está prejudicando o comércio bilateral e ameaçando setores-chave da economia nacional. Com a tarifa de 50 % já em vigor para cerca de 36 % das exportações brasileiras e risco de elevação à 100 %, a situação demanda solução urgente — sob risco de desemprego, retração do PIB e impacto direto nos preços de combustíveis e nos empregos do setor energético e financeiro.