Análise dos riscos econômicos de uma política doméstica descolada da maior economia do mundo
Na semana em que o Banco Central do Brasil divulga o IBC-Br de março e o Boletim Focus indica nova queda na projeção da inflação para 2025 (de 5,51% para 5,50%), uma preocupação estrutural ganha espaço entre analistas: o crescente desalinhamento entre a política econômica brasileira e os rumos adotados pelos Estados Unidos.
O cenário internacional exige atenção. Após sucessivas altas de juros pelo Federal Reserve nos últimos dois anos para conter a inflação, os EUA mantêm uma taxa de juros básica elevada (atualmente em 5,25%-5,50%) e sinalizam um ajuste fino, mas com viés contracionista. O objetivo é consolidar a estabilidade de preços sem sacrificar a retomada econômica. Em paralelo, mantêm estímulos à produção doméstica via reshoring, investimentos em infraestrutura e incentivos à indústria.
No Brasil, por outro lado, mesmo com a Selic ainda em patamar elevado (10,50%), as pressões políticas para sua redução persistem. O governo federal, enfrentando desafios fiscais, flerta com políticas expansionistas, incluindo aumento de gastos e subsídios setoriais, sem um plano robusto de equilíbrio fiscal de médio prazo. Essa dissonância com o cenário externo e, sobretudo, com a maior economia do mundo, expõe o Brasil a riscos cambiais, fuga de capitais e elevação do prêmio de risco.
Cenário atual
Segundo o Boletim Focus de 13 de maio de 2025, o PIB brasileiro deve crescer 2,02% este ano — um número tímido diante da retomada global. A inflação segue acima da meta, e o cenário fiscal continua sendo o "calcanhar de Aquiles" da economia.
Já os EUA, mesmo diante de um crescimento projetado em 2,3% para 2025, mantêm sua dívida sob controle em termos relativos e se beneficiam do status de porto seguro global para investidores. Ao alinhar juros altos com estabilidade institucional, os Estados Unidos atraem capital estrangeiro — frequentemente em detrimento de países como o Brasil.
Reflexão: o custo do desalinhamento
Se o Brasil não acompanhar a direção macroeconômica dos Estados Unidos — ao menos em termos de estabilidade e previsibilidade — corre riscos reais:
• Desvalorização cambial: A saída de dólares aumenta a pressão sobre o real, gerando inflação importada.
• Elevação do risco-país (CDS): Investidores exigem prêmios mais altos para manter recursos aplicados no Brasil.
• Estagnação estrutural: Com menor acesso a capital externo e confiança abalada, o país pode ver projetos estratégicos sendo adiados.
• Isolamento em acordos globais: O desalinhamento pode comprometer a posição brasileira em fóruns multilaterais e negociações comerciais.
O Brasil não precisa seguir os Estados Unidos como um espelho, mas tampouco pode ignorar os reflexos que suas decisões produzem no cenário internacional. Em um mundo cada vez mais interconectado, onde fluxos de capital reagem instantaneamente a sinais de confiança — ou sua ausência —, a escolha por um caminho econômico isolado pode custar caro.
A verdadeira soberania econômica não está em desafiar a lógica global, mas em saber dialogar com ela sem abrir mão dos próprios interesses. Sustentar o crescimento exige mais do que promessas: exige coesão institucional, previsibilidade fiscal e sensibilidade estratégica para entender que, na economia mundial, quem caminha fora de ritmo precisa compensar com clareza, confiança e responsabilidade.
O risco não está em pensar diferente, mas em parecer imprevisível. E num cenário onde a confiança é moeda forte, perder credibilidade pode ser mais caro do que perder reservas.