WASHINGTON — A decisão do presidente Donald J. Trump de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil marca um dos movimentos mais assertivos de sua nova administração, sinalizando ao mundo que os Estados Unidos não tolerarão governos que perseguem aliados estratégicos e desestabilizam relações bilaterais.
A medida, anunciada em 9 de julho, tem impacto direto sobre um volume de US$ 39,8 bilhões em exportações brasileiras para os EUA, segundo dados de 2024. Os setores mais atingidos incluem aço, alumínio, soja, carne bovina, celulose e aeronaves da Embraer, pilares da balança comercial brasileira. Para a Casa Branca, no entanto, trata-se de uma demonstração de força política e econômica.
Tradição republicana e nacionalismo econômico
Segundo assessores próximos, o gesto segue a linha histórica do Partido Republicano, que desde Abraham Lincoln defendeu tarifas para proteger empregos americanos e punir regimes adversários. Trump recupera a alcunha de Tariff Man ao mostrar que os EUA não hesitarão em usar sua força econômica para garantir respeito à democracia e aos aliados.
Embora democratas e progressistas critiquem o que chamam de "chantagem diplomática", republicanos argumentam que as tarifas preservam a autoridade dos EUA. "Quem quiser acesso privilegiado ao maior mercado do mundo deve respeitar nossos aliados e nossa visão de liberdade", afirmou um estrategista do Hudson Institute.
Impacto bilateral imediato
Os efeitos econômicos começam a aparecer. No Brasil, analistas da FGV projetam uma queda de até 15% nas exportações em apenas três meses, além da desvalorização do real de R$ 5,80 para R$ 6,10 em uma semana. Setores como o agronegócio e a siderurgia enfrentam risco de demissões, e a Embraer já prevê cancelamento de contratos com companhias aéreas regionais norte-americanas.
Nos EUA, o impacto será discreto: uma leve alta de 0,3% nos preços ao consumidor em nichos como aviação regional e alimentos importados. Por outro lado, fazendeiros e siderúrgicas americanas ganham mercado, consolidando apoio político a Trump no cinturão industrial e agrícola.
A humilhação judicial e o símbolo da tornozeleira eletrônica
O estopim para o endurecimento de Trump foi o episódio amplamente divulgado nas redes sociais e na imprensa brasileira: a imposição de uma tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada por ministros do Supremo Tribunal Federal. A imagem de um ex-chefe de Estado monitorado como um criminoso comum causou indignação nos círculos conservadores norte-americanos, sendo interpretada como mais um passo do governo Lula para humilhar a oposição e consolidar o avanço de um projeto de poder de viés socialista.
Para republicanos, a tornozeleira é o símbolo máximo da perseguição política, justificando a adoção de medidas de pressão econômica imediata.
Eduardo Bolsonaro, o articulador invisível
Enquanto isso, em Washington, Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado, desempenhou papel crucial ao reforçar junto à Casa Branca a narrativa de que o Brasil está sendo "cooptado pelo comunismo latino-americano". Próximo de Steve Bannon e de figuras estratégicas da ala mais ideológica do Partido Republicano, Eduardo convenceu Trump de que a sobrevivência política da direita brasileira depende de uma reação firme dos EUA.
Foi ele quem organizou encontros discretos com congressistas republicanos e pressionou por ações concretas, apresentando dossiês sobre supostos abusos de poder do STF e do governo Lula. Nos bastidores, Eduardo trabalha para criar uma frente internacional conservadora que liberte o Brasil do que ele chama de "projeto de dominação comunista".
Manifestações no Brasil: narrativa de soberania
No fim de semana, milhares de brasileiros foram às ruas em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Na Avenida Paulista, sindicatos queimaram bandeiras americanas e ergueram cartazes como "Emprego sim, chantagem não!". Em Copacabana, servidores e trabalhadores entoaram "Brasil soberano" e pediram retaliações econômicas.
Eduardo Bolsonaro usa taxação de Trump para cobrar do Congresso ...
Apesar da mobilização, a oposição conservadora brasileira se dividiu: parte dos aliados de Jair Bolsonaro aplaudiu o gesto de Trump como defesa da liberdade, enquanto outra parcela teme os danos para o agronegócio exportador.
Estratégia republicana e próxima fase
Trump, por sua vez, sinaliza abertura para negociação, mas condiciona qualquer recuo tarifário à suspensão do processo contra Bolsonaro e à retirada da tornozeleira eletrônica, vista como afronta à dignidade de um aliado político. Essa estratégia de "pressão tarifária" já funcionou com México e China e, segundo republicanos, acabará obrigando o governo Lula a ceder para não isolar-se economicamente.
Enquanto isso, o Brasil avalia retaliar com tarifas de 30% sobre produtos americanos como milho e tecnologia, além de acionar a Organização Mundial do Comércio — medida que, nos círculos republicanos, é vista como simbólica e sem grande impacto real
A ofensiva tarifária contra o Brasil mostra que Trump governa com clareza e coragem, sem receio de desafiar regimes de esquerda na América Latina. Embora protestos no Brasil tentem amplificar o impacto econômico, os republicanos enxergam uma vitória estratégica: reafirmação da autoridade global dos EUA, proteção ao mercado interno e sinal claro de que a América não financiará regimes hostis aos seus valores.
Em última análise, o custo econômico é marginal frente ao ganho político e simbólico. Para a direita americana, Trump reafirma o lema America First — mesmo que isso signifique desestabilizar parceiros hesitantes, resgatando ao mesmo tempo a dignidade de um aliado perseguido e fortalecendo lideranças como Eduardo Bolsonaro na luta contra o avanço comunista no Brasil.