O individualismo é uma posição moral, uma filosofia política, uma ideologia ou uma perspectiva social, que enfatiza o valor moral do indivíduo. Os individualistas promovem a busca por atingir determinados objetivos como independência e autonomia, opondo à mais árdua resistência a tudo que interfira com os seus interesses, tanto com relação à sociedade quanto a qualquer outro grupo ou instituição.
A ideia do individualismo nasce em contraposição à visão do indivíduo como membro de um grupo cuja sobrevivência e valores deva priorizar. Ao contrário disso, o individualismo faz do indivíduo o seu foco e parte do pressuposto de que o indivíduo humano é de primordial importância na luta pela libertação.
A palavra-chave aqui é, portanto, "indivíduo". Até o século XV e na atualidade nas áreas da estatística e da metafísica, "individual" significa "indivisível", um termo normalmente usado para descrever qualquer entidade numerável única. Com mais frequência é usado para indicar a "pessoa" em seu contexto. A partir do século XVII, "individual" passou a significar separação, de onde surgiu o conceito de individualismo, isso porque a partir desse período histórico surgiu uma visão dos homens não mais como partes de um todo (caracterizado por valores sociais e religiosos) mas como realidades completas em si, com potencialidades e destino únicos. Daí a ideia da "individualidade" como a condição ou qualidade de ser um indivíduo, isto é, uma pessoa separada das outras com suas próprias necessidades, objetivos e desejos a serem alcançados.
A ideia do individualismo está atrelada àquela de liberdade, o que fundamentou muitas correntes tanto filosóficas como políticas e econômicas (o liberalismo é uma delas). Mas liberdade do quê? Na época em que surgiu, se tratava da liberdade dos dogmas teológico e das estruturas sociais que não reconheciam ao indivíduo a legitimidade de fazer novas escolhas, desenvolver novas dinâmicas e formas de se relacionar, abrir-se a novas ideias e ações no mundo. O individualismo valoriza o ser individual em oposição ao ser coletivo.
Esta é uma passagem essencial para o desenvolvimento da personalidade humana e da sociedade como um todo. Mas há uma armadilha como todos podemos observar ao redor:
vivemos numa sociedade tanto individualista quanto coletivista e de massa.
Para aqueles que esta?o familiarizados com a psicologia complexa talvez parec?a uma pura perda de tempo insistir na diferenc?a, ha? muito tempo introduzida, entre "tornar-se consciente" e "realizar- se a si mesmo" (individuac?a?o). Mas observo cada vez mais que se confunde o processo de individuac?a?o com o processo de tornar-se consciente, e que o Ego e?, consequ?entemente, identificado com o Self (Si-mesmo), o que naturalmente acarreta uma irremedia?vel confusa?o entre os conceitos, pois com isto a individuac?a?o se transforma em mero egocentrismo e auto- erotismo. Ora, o Self compreende infinitamente muito mais do que apenas o Ego, como o mostra o simbolismo desde e?pocas imemoriais [...]. A individuac?a?o na?o exclui o mundo; pelo contra?rio, o engloba.
C. G. Jung, A natureza da psique.
Individualidade sem individuação é egocentrismo e soa assim: os meus interesses estão acima não só dos teus como dos da sociedade, da natureza, do planeta. E: não me importam quais serão as consequências sobre o todo, o que me importa é o que eu quero, a minha liberdade de escolher o que me convém e o que for bom para mim.
Esse "bom para mim" está claramente em oposição ao "bom para os outros". Todos conhecemos esse tipo de indivíduo, é o mais comum mesmo quando não se declara "individualista", suas ações falam por si. Está evidente que a conquista histórica do século XVII precisa de atualização e esta só é real quando o conceito de individualismo e transforma naquele de individuação. Incluindo o processo psicológico profundo, a individualidade de um sujeito tem a oportunidade de desenvolver sua unicidade e originalidade ao mesmo tempo em que se conecta com mundo de um novo lugar, não mais de submissão e impotência, mas de protagonismo criador e realização pessoal.
(...) Na individuação há, portanto, as sementes de uma nova coletividade.
Sonu Shamdasani. 2007. Jung e a criação da psicologia moderna. O sonho de uma ciência.
Adriana Tanese Nogueira...
Etc.