No primeiro dia como presidente, o democrata Joe Biden enviou ao Congresso uma proposta de reforma da imigração descrita como "a mais progressista da história" do país. A "Lei de Cidadania" é um projeto ambicioso, visto como um passo crucial e importante para regularizar a situação de imigração de mais de 10 milhões de indocumentados no país.
De acordo com o documento divulgado pelo novo governo, as mudanças mais urgentes abrangem a segurança na fronteira com o México, a reunificação de famílias que pedem asilo e a legalização de certos grupos de indocumentados que estudam e trabalham nos Estados Unidos.
Governo Biden-HarrisNeste início do governo Biden-Harris, a maior parte dos imigrantes, principalmente latinos, esperam por promessas de melhora nas leis de imigração. Biden começou sua presidência assinando uma pilha de ações executivas que mudaram radicalmente o tom da imigração.
Ele reassumiu o compromisso do governo com o DACA, pôs fim à "proibição muçulmana" de Trump, interrompeu a construção do muro de fronteira, suspendeu as deportações por 100 dias (ordem esta já suspensa por um juiz do Texas) e propôs substituir o uso da palavra "alien" (estrangeiro) para se referir aos seres humanos que emigram para cá. O novo termo seria "noncitizen" (não cidadão) e o governo já o está usando.
"Há uma esperança e um alívio no ar"Em processo para se tornar residente permanente pelo casamento, Claudia Figueiredo, 48 anos, moradora de Pompano Beach, disse ao Gazeta News que espera que a nova gestão acelere os processos imigratórios "de quem já está, como eu, sem importar qual o tipo, porque essa agonia da espera é horrível", diz.
Desde agosto de 2020 a produtora de eventos aguarda pra fazer o fingerprints (checagem de antecedentes criminais), mas sabe que a demora também é reflexo da pandemia. "Em tempos normais, geralmente o processo de GC leva uns 6-8 meses, mas infelizmente a pandemia entrou no meio do caminho", afirma. E realça que tem expectativa de que as coisas irão melhorar.
"Há uma esperança e um alívio no ar. Até meu marido que é americano e era republicano, fez esse comentário essa semana pra mim. De verdade, eu tenho uma esperança de que ele consiga legalizar os 'dreamers', pois são os que foram trazidos sem ter opção de opinião. Não sei se ele conseguirá aprovar imigrantes ilegais, que veja bem, precisam ter toda uma documentação pra entrar com o processo", salienta.
Além disso, menciona que há toda uma questão política por trás. "O congresso, mesmo sendo 50/50 há que ter 17 republicanos aprovando a emenda. Não podemos esquecer que o President Biden não é mágico, é um ser humano com a ideia de que mundo pode ser melhor pra todos", opina.
Já para o ajudante de construção de Deerfield Beach, Marcelo Ferreira (nome trocado a pedido), que ainda vive como indocumentado após 11 anos nos EUA, o sonho de se legalizar está mais perto. "Antes era mais difícil acreditar que a gente que vive como imigrante e não tem documento poderia viver sem medo de ser pego, ser deportado. Esse medo existe, é claro, mas agora estou mais tranquilo e vendo mais possibilidades para o meu caso", conta.
Cidadania para grupos de indocumentados - quais os caminhos apontados?
Existem pelo menos 10,5 milhões de indocumentados - 23% da população estrangeira residente - nos EUA atualmente, de acordo com uma estimativa feita em 2017 pelo Pew Center for Research. Geralmente, o tempo que um imigrante vive como indocumentado no país é em média 15 anos, de acordo com estimativas do Center for American Progress, uma entidade liberal de pesquisa.
De acordo com a legislação, Biden propõe um caminho de oito anos para a cidadania de imigrantes sem status legal que residam nos Estados Unidos desde antes de 1º de janeiro deste ano. Eles podem solicitar uma residência temporária que pode se tornar permanente (green card) após cinco anos e após três, eles poderiam iniciar o processo de naturalização como americanos, se assim o desejassem.
Mas, para conquistar a legalização, como regras já existentes, os candidatos terão que passar por verificações de antecedentes criminais, pagar impostos e preencher outros requisitos básicos.
"Dreamers"
Também indocumentados, no entanto beneficiários do Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA) um programa que lhes permite estudar, trabalhar e viver "quase" legalmente nos EUA, cerca de 700 mil jovens que vieram para os EUA ainda crianças pela fronteira de modo ilegal também terão a chance de se regularizar para uma possível residência permanente e posterior cidadania.
Assim como os "dreamers", entram nessa parte do projeto de imigração, imigrantes incluídos no programa de Status de Proteção Temporária (TPS) - oriundos de países da América Central - e trabalhadores agrícola "atendendo a requisitos específicos" imediatamente se qualificam para residência permanente. Depois de três anos, eles também podem solicitar a naturalização.
"Não são ideias novas, mas o fato de estarem propondo um programa de legalização para quem está no país antes de 1º de janeiro deste ano é algo grande e mais direto do que as iniciativas que vimos no passado recente", explica Julia Gelatt, Analista de Políticas de Migração no Migration Policy Institute (MPI) à BBC.